António Ferro - Leviana
Delraux, 1979. 108 pp.
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«No atelier dum fotógrafo. A Leviana prepara-se para tirar o retrato, mas está na dúvida se a meio corpo se a corpo inteiro. Eu quero-a dos pés à cabeça, quero-lhe o esqueleto todo. Ando a aprender anatomia naquele corpo. A irmã, porém, não acha decente o corpo inteiro. O corpo das mulheres é, pelo visto, um clube mundano com salas reservadas só para sócios. Fica, portanto, resolvido o meio corpo. Eu amuo, entristeço, pego nas palavras, nos sorrisos, meto tudo isso no cofre, no cofre forte do meu rosto impenetrável...
A Leviana, porém, decide arrombar o cofre. Aproxima-se de mim, e, como quem passa um bombom, escorrega-me aos ouvidos:
- Deixa lá... Tiro agora o meio corpo e dou-te logo o resto...»
"Escrita em 1919 e publicada em 1921, a obra Leviana de António Ferro procurou trazer uma lufada de ar fresco ao panorama literário português. A sua tentativa de introduzir em Portugal os romances directos, deixou indubitavelmente uma marca, ou não fosse António Ferro um homem de visão, de futuro, das vanguardas e do progresso, sem com isso deixar de ser um homem de tradição e de raízes, numa junção que fazem dele um dos grandes portugueses do século XX.
A forma como decorre a narrativa em Leviana é assaz equilibrada. O texto resultou, no entender do seu autor, num produto literário um pouco extenso demais para o seu objectivo inicial, contudo, o leitor ficará por certo com uma ideia completamente contrária, isto é, tudo parece estar organizado na sua exacta medida. Da extensão do texto, ao suspense das declarações sensuais que desvendam o axioma do ser da nossa protagonista, nada parece deixado ao acaso. Para isso, muito contribui a elegância da escrita de António Ferro, fluente e envolvente como o seu discurso." [fonte]
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