quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Square Tolstoi, Nuno Bragança
Nuno Bragança, Square Tolstoi. 1.ª ed., Assírio & Alvim, 1981.
Do Livro:
Como era grande a tua solidão. Tão vasta quanto a minha. Mas por razões ocultas, encontrámos vasos comunicantes. Que nos nivelavam o sentir no que me parecia prometida paz. Esquecia-me de um risco que a experiência submarina assinala a todo o mergulhador: a partir de certa fundura, ele fica exposto aos perigos da chamada embriaguês das profundidades.
Espontaneamente, vinham-nos recordações da infância mais remota. Às vezes parecia-me que estávamos tentando remontar aos nossos primeiros anos de vida sobre a terra, para que o encontro começasse nesses tempos e assim crescesse em sintonia. Era como se tudo o que nós os dois tínhamos vivido separadamente exigisse uma qualquer compensação da perda originada por não termos feito o caminho sempre juntos. Resumindo: devíamos ter nascido ao mesmo tempo, brincado juntos, crescido juntos até nos desvirginarmos mutuamente. E termos prosseguido assim. Pelo menos era desta cor que eu sentia as coisas entre nós.
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