Organização: Patrícia Martins, Golgona Anghel, Fernando Guerreiro
1.ª ed., CLEPUL, Lisboa, 2011. Como novo.
“Os anos 40 do século XX, no que à poesia portuguesa diz respeito, foram com frequência descritos pela crítica como anos de recuo relativamente às propostas vanguardistas do primeiro modernismo e à obra de Fernando Pessoa em particular. A recusa do anti-aristotelismo pessoano por parte dos que vieram imediatamente depois teria contribuído para restaurar o lugar mítico do sujeito empírico colocado no centro da criação poética; a preferência por um realismo imitativo e consequente indisponibilidade para efectuar a travessia e a crítica da mimese iriam no mesmo sentido.
Mas será mesmo assim? O que fazem realmente os escritores dos anos 40, de que maneira constroem a sua voz? Demarcando-se de Pessoa? Escrevendo contra ele? Será possível, ou útil, referir os modos de marcação de uma diferença pelos “poetas fortes” desses anos? Terão eles “escolhido” outros precursores e reatado diálogos com a poesia antes de Pessoa? Como se o primeiro modernismo não tivesse existido? Não é possível rasurar Pessoa, como não é possível ignorar que Picasso existiu, ou Duchamp. Supomos então que, mesmo nos casos do mais espesso silêncio sobre o modo como o encontro com Pessoa se deu, em cada obra poética importante iniciada nessa década se podem encontrar os traços desse diálogo.”
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